segunda-feira, junho 28, 2004

O Paradoxo da Verdade

"O homem deseja e odeia a verdade. Quer mentir aos outros - quer que o enganem (prefere a ficção à realidade), mas por outro lado receia o engano, quer o fundo das coisas, o verdadeiro verdadeiro, etc.
Somente a razão conduz à verdade. Mas só os fanáticos, os visionários e os iluminados fazem as coisas grandiosas, mudanças, descobertas. A verdade, de tanto se tornar necessária, conduz à secura, à dúvida, à inércia - à morte.
É muito natural que os homens odeiem aqueles que dizem ou tentam dizer a verdade. A verdade é triste (dizia Renan) - mas, com maior frequência, é horrível, temível, anti-social. Destrói as ilusões, os afectos. Os homens defendem-se como podem. Isto é, defendem a sua pequena vida, apenas suportável à força de compromissos, de embustes, de ficções, etc. Não querem sofrer, não querem ser heróis. Rejeição do heroísmo-mentira."


Giovanni Papini, in 'Relatório Sobre os Homens'

PS: a questão devia centrar-se em saber responder em primeiro lugar à pergunta "o que é?", depois disso é que nos poderemos centrar na discussão da verdade, que me parece não existir verdadeiramente, a sua própria definição refuta-a, mas como se disse sem responder a essa pergunta, como enunciou Platão não se pode chegar a lado nenhum.

quarta-feira, junho 23, 2004

Saber Estar em Sociedade

"O homem que não tem mais do que o próprio valor necessita de ser excelente em grande número de virtudes, tal como a pedra que não é preciosa necessita de ser revestida de metal; mas comummente acontece com a reputação o mesmo que com o lucro, se é verdadeiro o provérbio que diz: que com leves ganhos se fazem pesadas bolsas, porque estes são frequentes, enquanto os grandes só chegam de vez em quando; assim, também é verdade que pequenas coisas ganham grande recomendação, porque são de uso e de observação corrente, enquanto a ocasião de manifestar grandes virtudes só é dada nos dias-santos. Para adquirir boas maneiras basta apenas não as desdenhar, porque, habituando-nos a observá-las nos outros, deixamos confiadamente operar em nós a imitação; pois se cuidarmos de as exprimir, perdem logo a sua graça, a qual é serem naturais e desafectadas. O comportamento de cada homem deve ser como um verso, no qual todas as sílabas são medidas. Como pode um homem ocupar-se de grandes assuntos, se quebra demasiado o seu espírito com mesquinhas observações? Não usar completamente de cerimónias é ensinar aos outros que não as usem também, e assim diminuir o respeito próprio; especialmente, não devem ser omitidas perante estrangeiros e pessoas desconhecidas.

Entre pessoas de igual posição há a certeza de se cultivar familiaridade, mas não deixa de ser bom conservar uma certa distância; entre inferiores, há a certeza de encontrar uma certa deferência, e no entanto não será mau ser um pouco familiar. O que é demasiado seja no que for, o que dá aos outros impressão de saciedade, descresce rapidamente de valor. Ser prestável aos outros é bom, com a condição de que se mostre que se procede assim por deferência e não por hábito. É um bom preceito o de acrescer alguma coisa da própria lavra quando se secunda a opinião de outrem; se concordades com a opinião alheia, acrescentai todavia uma distinção subtil; se desejardes acompanhar alguém no seu propósito, fazei-o sempre com uma condição; se aceitardes alheio conselho, alegai para isso a vossa razão."


Francis Bacon, in 'Ensaios'

segunda-feira, junho 21, 2004

Verdade

"A verdade é a melhor camuflagem. Ninguém acredita nela"

Max Frisch

Deus

"Não acredito em Deus porque nunca o vi. Se ele quisesse que eu acreditasse nele, sem dúvida que viria falar comigo."

ALBERTO CAEIRO

quinta-feira, junho 17, 2004

O medo e ódio

"O medo e o ódio são inseparáveis. O ódio é uma reação automática ao medo, pois o medo humilha".

Graham Greene

terça-feira, junho 15, 2004

Divagações

A noite está escura, o último raio de sol já se foi à muito, um nevoeiro obscurecido, proveniente das trevas, emana pelas ruas desertas, iluminadas pelos candeeiros públicos, já alguns não funcionam, mas não é de estranhar, quando tanta coisa não funciona e não é concertada, a começar pela lei. Caminho rua a baixo, e poucos transeuntes vejo, ou se alguns passam por mim, não os vejo, vou alheado de tudo e todos, e o que vejo é um nevoiro cerrado, que me faz relembrar os tipicos nevoiros ingleses, de uma Londres industrial, depois mais abaixo na calçada vejo dois idosos conversando sobre tudo e nada, como se fosse a última coisa que pudessem fazer, sentem-se desprendidos deste mundo, querem partir, mas no entanto ainda não chegou a sua hora, no entretanto vão falando do passado, como se ainda vivessem nos anos 60 ou 70, pobres coitados, que não se apercebem das mudanças do mundo moderno, se calhar por isso ainda conseguem ser felizes. Seguindo meu longo caminho passo por duas crianças brincando freneticamente face aos gritos estridentes de uma senhora, mais pareciam grunhidos, que as engraçadas crianças, não pareciam ouvir, mas estavam felizes, naquilo que faziam, também vivem um mundo à parte, concerteza mais felizes que todos, resumindo-se os seus problemas ao dia estar-se a acabar e terem de ir para casa, ouvir da mãe por ainda não terem feito os trabalhos de casa, adiando esse momento até mais não puderem. Entretanto sua possível mãe amarelecida pelos anos de trabalho, cansou-se de gritar e recolheu à sua casa, de paredes escuras como breu, sentindo a sua insignificância face à alegria das crianças. Compreendi que ela não era capaz de entender a sua felicidade, provavelmente porque não entende o seu desprendimento e a sua alegria. E lá continuei meu trajecto, em busca de mais saber, apesar de saber que ele nunca existirá na totalidade, mas o desejo de saber consome-me, e a perfeição persegue-me, ou melhor persigua eu, apesar de saber que é uma perseguição condenada ao fracasso. A caminho de meu berço encontro dois rapazes lindos como a luz do sol, de mãos dadas, pareciam estarem amorosamente ligados, e pensei que já não existe receio de mostrar determinados tipos de paixão, serão odiados pela sociedade, mas noto que se sentem felizes, e isso basta para eles. Os cães ladram, os gatos miam, as calçadas vibram com os poucos carros que ainda circulam, provavelmente vindos de um qualquer espectáculo, até que entro nas minhas quatro paredes, o último refugio depois de mais um dia de aventura, pois porque cada dia é uma aventura e uma aprendizagem, poucos o verão assim, mas ele é na realidade assim, mas não o afirmo como sendo uma verdade absoluta, porque não acredito na verdade absoluta...sou um céptico. Pouco depois estou deitado, no meu leito solitário, apetece-me ler, mas não consigo, quero pensar na existência, e só vejo os velhos conversando e as crianças brincando, essas sim são felizes, cada uma à sua maneira, porque não pensam nestes problemas e são livres, desprendidas do mundo, são enfim, as fases mais belas da vida existencial, a infância e a velhice, quem me dera ter a sua juventude e o conhecimento dos velhos sábios, mas no entanto seria infeliz, porque já saberia tudo, e isso iria matar-me, quero procurar e encontrar, preseguir, o que ainda não foi encontrado, isso me fará feliz, realizado. Felizes aqueles que vêm como eu, até talvez esteja errado, mas deixem-me estar porque assim sou feliz. Vamos descobrir a nossa existência, quais as razões? quais os objectivos? qual o seu interesse?, perguntas dificeis, para mais para um ceptico, mas a beleza das coisas está exactamente em não saber, e nessa procura que se vai seguir.

PS: Isto poderia-se passar em qualquer lado, em qualquer momento, com qualquer pessoa, mas serve acima de tudo para pensar na relatividade da vida, e na existência de diversas verdades, ou melhor na não existência de verdade, pois como se poderia aceitar existirem várias, se à várias, não há nenhuma. Controverso talvez..., provocador talvez...

quinta-feira, junho 10, 2004

Verdade

Muitos falam da verdade, mas o que é a suposta verdade, ela existirá, julgo que não existirá, mas nunca se saberá, porque verdade tendencialmente não existe, é uma mentira, mas também não posso admitir que é verdade, porque senão estamos a cair em contradição, diria que é daquelas palavras que não deviam existir, é um conceito de tal forma indeterminado e dúbio que não deveria existir, que apenas cria grandes confusões conceptuais. Não podemos cair no erro em acreditar que ela existe, é erroneo pensar na verdade, ela nunca existe, já que aquilo que hoje dizemos que é verdade, daqui a um segundo já não é.

quarta-feira, junho 09, 2004

Sousa Franco (1942-2004)

António Luciano de Sousa Franco, nascido em Lisboa em 1942, morreu esta quarta-feira, às 09:56 horas, em Matosinhos, depois de ter sofrido uma paragem cardíaca.

Doutor e agregado em Ciências Jurídico-Económicas pela Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, Sousa Franco tirou ainda uma pós-graduação em Economia pela Universidade de Paris, em 1965.
Foi professor catedrático da Faculdade de Direito de Lisboa e da Universidade Católica Portuguesa, tendo sido durante oito anos presidente do conselho directivo e dois anos presidente do Conselho Científico da FDL (até 2004). Sousa Franco foi ainda durante seis anos director da Faculdade de Direito da UCP.

Membro do Conselho Editorial da Common Market Law Review, da Revue Française de Finances Publiques (Paris), além de outras seis revistas científicas portuguesas, brasileiras e cabo-verdianas, viu cerca de 300 obras científicas no domínio das Finanças Públicas, do Direito Económico e do Direito Comunitário Europeu publicadas em nove línguas.

Sousa Franco foi ainda administrador da Caixa Geral de Depósitos (CGD) entre 1974 e 1975.

Na área política, foi, no PSD (1974-1979), membro do Secretariado Nacional e director do gabinete de estudos (1974-1975), vice–presidente (1975-1977) e presidente (1977-1978), e presidente da Acção Social-Democrata Independente (1979-1982).

Foi ainda deputado à Assembleia da República pelo círculo de Lisboa entre 1976-1979 e 1980-1982, secretário de Estado das Finanças (1976, com o ministro Francisco Salgado Zenha), ministro das Finanças (1979-1980, no Governo de Maria de Lourdes Pintasilgo) e, de novo, em 1995-1999 no Governo de António Guterres quando Portugal foi membro fundador do Euro).

Representou ainda o PS no Partido dos Socialistas Europeus (1996-1999), sendo redactor da declaração de Atenas sobre «Crescimento, emprego e coesão social» (1997), cujo primeiro subscritor foi Jacques Delors, e da declaração do PSE «A nova via económica. Reformas Económicas na UEM» (Bruxelas,1998).

Actualmente, era o cabeça-de-lista do PS às eleições europeias (13 de Junho).


In Diário Digital

O Génio de Garcia Lorca

Verde que te quiero verde.
Verde viento. Verdes ramas.
El barco sobre la mar
y el caballo en la montaña.
Con la sombra en la cintura
ella sueña en su baranda,
verde carne, pelo verde,
con ojos de fría plata.
Verde que te quiero verde.
Bajo la luna gitana,
las cosas la están mirando
y ella no puede mirarlas.

Verde que te quiero verde.
Grandes estrellas de escarcha,
vienen con el pez de sombra
que abre el camino del alba.
La higuera frota su viento
con la lija de sus ramas,
y el monte, gato garduño,
eriza sus pitas agrias.
¿Pero quién vendrá? ¿Y por dónde?
Ella sigue en su baranda,
verde carne, pelo verde,
soñando en la mar amarga.

-Compadre, quiero cambiar
mi caballo por su casa,
mi montura por su espejo,
mi cuchillo por su manta.
Compadre, vengo sangrando,
desde los puertos de Cabra.
-Si yo pudiera, mocito,
este trato se cerraba.
Pero yo ya no soy yo,
ni mi casa es ya mi casa.
-Compadre, quiero morir,
decentemente en mi cama.
De acero, si.puede ser,
con las sábanas de holanda.
¿No ves la herida que tengo
desde el pecho a la garganta?
-Trescientas rosas morenas
lleva tu pechera blanca. Tu sangre rezuma y huele
alrededor de tu faja.
Pero yo ya no soy yo,
ni mi casa es ya mi casa.
-Dejadme subir al menos
hasta las altas barandas,
¡dejadme subir!, dejadme
hasta las verdes barandas.
Barandales de la luna
por donde retumba el agua.

Ya suben los dos compadres
hacia las altas barandas.
Dejando un rastro de sangre.
Dejando un rastro de lágrimas.
Temblaban en los tejados
farolillos de hojalata.
Mil panderos de cristal
herían la madrugada.

Verde que te quiero verde,
verde viento, verdes ramas.
Los dos compadres subieron.
El largo viento dejaba
en la boca un raro gusto
de hiel, de menta y de albahaca.
-¡Compadre! ¿Dónde está, dime?
¿Dónde está tu niña amarga?
¡Cuántas veces te esperó!
¡Cuántas veces te esperara,
cara fresca, negro pelo,
en esta verde baranda!

Sobre el rostro del aljibe
se mecía la gitana.
Verde carne, pelo verde,
con ojos de fría plata.
Un carámbano de luna
la sostiene sobre el agua.
La noche se puso íntima
como una pequeña plaza.
Guardias civiles borrachos
en la puerta golpeaban.
Verde que te quiero verde,
verde viento, verdes ramas.
El barco sobre la mar.
Y el caballo en la montaña


Garcia Lorca

terça-feira, junho 08, 2004

Willian Blake

O Sopro Divino

O Sopro Divino foi emitido sobre as montanhas matutinas.
Albion moveu-se
Sobre as rochas, ele abriu suas pálpebras com dor.
Com dor ele se moveu.
Com seus membros pétreos. Ele viu a Inglaterra.
Oh, os mortos viverão novamente?
O Sopro Divino foi emitido sobre as montanhas matutinas.
Albion elevou-se.

Willian Blake

Romantismo de Walter Scott

Canto Fúnebre
Ele foi-se para o monte,
Perdeu-se lá na floresta,
Como ressequida fonte,
Quando nossa ânsia era presta.
Fonte reaparecendo
À chuva recorrerá,
Para nós nada ao relento,
Duncan não mais voltará!

Essas mãos do ceifador
Ceifam orelhas bem velhas,
Mas a voz do carpidor
Alça à coragem centelhas.
Ventos do outro avançando
Sacodem as secas folhas,
Mas nossa flor renovando
Quando a desonra era encolha.

Rápido pé na passagem,
Sábio aviso no porvir,
Mão vermelha na pilhagem
Como soa teu dormir!
Como o rocio no monte,
Como a espuma na corrente,
Você foi-se eternamente!

Walter Scott

quarta-feira, junho 02, 2004

Arte



O retrato de Mona Lisa, cheio de mistério e de segredos, foi pintado em madeira, na medida de 77 x 53 cm. É o mais famoso trabalho de Leonardo da Vinci.

Originalmente, a pintura era maior do que aquilo que se conhece hoje, pois tinha duas colunas, à direita e à esquerda, que foram cortadas. Por essa razão, não é fácil perceber que Mona Lisa está sentada em um terraço.

Além disso, muitos dos detalhes do quadro não são visíveis hoje, por terem sido danificados por outra camada de pintura colocada sobre eles.

Todavia, as características essenciais da obra ainda permanecem. Elas consistem em um detalhado fundo que desaparece na atmosfera enevoada, numa técnica hoje conhecida como «sfumato». Também se acha perfeito o retrato propriamente dito e, é claro, o hipnótico sorriso da Monalisa.

Hoje se tem como certo que a encomenda foi feita por Francesco di Bartolommeo di Zanobi del Giocondo, um dos mais nobres cidadãos de Florença, para retratar sua terceira mulher, Lisa di Antonio Maria di Noldo Gherardini (La Gioconda).

Leonardo começou a pintura em 1503, quando Mona Lisa tinha apenas 24 anos. Ele viria a trabalhar nela pelos próximos quatro anos, mas ao final recusou-se entregar a obra ao comprador.

Com efeito, ao deixar Florença, em 1508, preferiu manter a posse, levando-a consigo. Alguns acreditam que não a entregou por estar inacabada, versão pouco verossímil, pois era comum Leonardo interromper suas obras antes do término, dando-as como finalizadas.

Outros crêem, com mais lógica, que Leonardo amava tanto a pintura que não desejava separar-se dela.

Assim é que, oito anos mais tarde, mudando-se para a França, Da Vinci lá chegou com o quadro em sua bagagem e só então, em 1516, decidiu vender a pintura ao rei Francisco I, que colocou-a em seu castelo em Amboise, às margens do rio Loire.

Monalisa enfrentaria ainda uma longa peregrinação. Num outro momento, o quadro seria levado a Fontainbleau, Paris, Versailles e passaria para a coleção de Lodwig XIV.

A Revolução Francesa viria, outra vez, influir em seu destino, quando a obra seguiu para Louvre, onde Napoleão se apossou dela e mandou pendurá-la em seu quarto. Quando Napoleão foi banido da França, Mona Lisa retornou ao grande Louvre de Paris.

Em 21 de agosto de 1911, Mona Lisa foi levada do museu por um ladrão italiano que carregou a obra para sua terra, sendo descoberta mais tarde em sua origem, a cidade de Florença, que não perdeu a chance de retê-la por mais algum tempo colocando-a em exposição. Satisfeita a curiosidade geral, Mona Lisa foi devolvida aos seus legítimos donos, em Paris.

Em 1956, um louco jogou ácido sobre a pintura, causando-lhe danos na parte inferior, exigindo um cuidadoso trabalho de restauro que se desenrolou por vários anos.

Nas décadas de 60 e 70, Mona Lisa viajou pelo mundo, exibindo-se em Nova York, Tóquio e Moscou. Depois, voltou à sua residência no Louvre, onde até hoje se encontra, atrás de um vidro à prova de balas. Para garantir a permanência, para todo o sempre, no Museu, foi assinado um termo de responsabilidade no qual é proibida sua venda ou empréstimo, seja a que título for. Quem quiser vê-la, em todo seu esplendor, só terá uma forma de fazê-lo: viajar a París e visitar o Louvre.

A jovem e enigmática Gioconda, depois de tantas aventuras e tropeços, encontrou, afinal, sua última e definitiva morada.


O Obstáculo Invisível

Este não é um Blogue totalmente Kafka(tizante), como o blogue do meu Professor Pedro Lomba, mas de vez enquando, acho de bom tom a colocação de um pouco da obra deste génio

"As forças do homem não são concebidas como uma orquestra. No homem é necessário que todos os instrumentos toquem constantemente com toda a sua força. Não foram destinados a ouvidos humanos e não dispõem da duração de uma noite de concerto durante a qual cada instrumento pode esperar para se fazer valer.
Por vezes parece que as coisas serão assim: tu tens tal tarefa a cumprir, dispões de tantas forças quantas são necessárias para a levar a bom termo (nem muito, nem muito pouco, sem dúvida te é necessário concentrares-te, mas não tens que estar ansioso), com bastante tempo teu e boa vontade para o trabalho, onde está o obstáculo ao êxito da imensa tarefa? Não percas tempo a procurá-lo, talvez não exista."


Franz Kafka, in "Meditações"

terça-feira, junho 01, 2004

Aristocracia e Democracia

"Fala-se sempre muito em aristocracia e democracia. Pois o caso é apenas este: Na mocidade, quando nada possuímos ou não sabemos apreciar a posse tranquila, somos democratas. Mas se, no decurso de uma longa vida, conseguimos possuir alguma coisa, desejamos não somente garanti-la, mas queremos também que os nossos filhos e netos possam gozá-la tranquilamente. É por isso que na velhice somos sempre aristocratas, mesmo que na nossa mocidade tivéssemos tido pendor para uma mentalidade diferente."

Johann Wolfgang von Goethe, in "Conversações com Goethe, de Eckermann"